terça-feira, 17 de novembro de 2015

UMA POLÊMICA EM RELAÇÃO AO EXAME



“O exame é um efeito das concepções sobre a aprendizagem, não o motor que transforma o ensino.” (p.51)

O exame é o termo utilizado nessa época para avaliar os alunos, foi um instrumento que a comunidade escolar acreditava que existia uma relação entre o sistema de exames e sistema de ensino, de modo que achavam que a modificação de um poderia afetar o outro, mas na verdade isso era um falso princípio didático, pois sabemos que as relações entre o exame e o sistema de ensino não são iguais, porque a finalidade do exame não é modificar o ensino, e só apenas identificar se o aluno aprendeu ou não o conteúdo.

“É importante analisar a forma como o exame moderno efetua uma série de reducionismos técnicos sobre o saber pedagógico.” (p.52)

Por trás da polêmica que existe sobre o papel que o exame cumpre na sociedade, na escola e na vida dos alunos, vimos que a pedagogia criou mais problemas para a educação do que resolveu, pois esse instrumento utilizado não teve nenhum rendimento na comunidade escolar, empobrecendo a educação.

O exame, um problema de história e sociedade

“Todo mundo sabe que o exame é o instrumento a partir do qual se reconhece administrativamente um conhecimento, mas igualmente reconhece que o exame não indica realmente que é o saber de um sujeito.” (p.54)

Embora o conhecimento seja visto como uma forma de ascensão social, onde o indivíduo pode subir na vida de acordo com a sua carga de conhecimento, ou seja, passará a ter um poder aquisitivo na sociedade. Se bem que, o conhecimento não pode ser medido e nem mesurado através de nota, quanto menos estabelecer qual grau de ascensão o sujeito terá na vida.

“É habitual que tanto os estudiosos da educação como qualquer pessoa comum pensem que o exame é um elemento inerente a toda ação educativa.” (p.55)

Porém o exame ser utilizado como instrumento de avaliação da aprendizagem dos alunos, mesmo visto pelos estudiosos que não pode medir o conhecimento. Mas ainda a sociedade continua utilizado esse instrumento com a finalidade de medir o conhecimento dos alunos, na qual é natural os docentes pensar no exame depois e uma aula, para saber se realmente se o aluno aprendeu.

“Se o exame não é um problema ligado historicamente ao conhecimento, é um problema marcado pelas questões sociais, sobretudo aquelas que não pode resolver.” (p.56)

Portanto, o exame é na realidade um espaço de convergência de inúmeros problemas, dos quais: sociológicos, políticos, psicopedagógicos e técnico, problemas os quais aparecem agonizados só em sua dimensão técnica.

“[...] o exame é só um instrumento que não pode por si mesmo resolver os problemas gerados em outras instâncias sociais.” (p.57)

Desta forma, o exame acabou sendo uma dimensão de espaço, no qual é visto pelos alunos e professores, tornando-se uma maneira objetiva de saber qual grau de sabedoria cada indivíduo possui, gerando assim, uma exclusão do mesmo na sociedade. Por ela ser usada como um instrumento de avaliação da aprendizagem, ela não pode ser usada para melhorar questões sociais devido por falta de investimento.

Primeira inversão: Problemas sociais em problemas técnicos

“Uma das funções atribuídas ao exame é determinar se o sujeito pode ser promovido de uma série para outra.” (p.58)

O instrumento de avaliação nessa perspectiva, tem o poder de decisão sobre o indivíduo, já que o exame é capaz de classificar de forma objetiva o grau de inteligência do sujeito perante a sociedade, dano a possibilidade de passar de uma séria para outra, caso o aluno tenha um bom desempenho escolar.

“Esta inversão de relações sociais em problemas de ordem técnica converte a questão do exame numa dimensão cientificista” (p.59)

Nessa inversão a prática do exame se converteu em controle de poder e excludente, onde o exame passa a controlar o avanço do aluno durante a cada série e legitimar o seu aprendizado, selecionando os melhores alunos através do título profissional.


Segunda inversão: De problemas metodológicos a problemas de rendimento

“Na Didactica Magna (1657) de Comenius o exame está indissoluvelmente ligado ao método.” (p.60)

De acordo com a Didactica Magna, o exame está diretamente ligado ao método de ensino, pois caso o aluno não aprende o conteúdo cabe ao professor rever seu método, reformulando para que todos compreendam. No qual, o exame por si só não decide a nota e posterior promoção do aluno, portanto seu objetivo principal é ofertar um retorno ao professor para saber se os alunos estão adquiridos os conhecimentos em determinado conteúdo.

“Muller [...], se queixava de que na Universidade de Oxford “o prazer do estudo acabou, o jovem pensa só no exame”.” (p.61)

Na medida que o exame deixou de ser um aspecto do método ligado à aprendizagem, os alunos só pensavam no exame, e não se importava se aprendeu determinado assunto ou não, deixando o prazer de estudar de lado.

“O exame [...] se trata de atingir formas de controle individual (adaptação social) e sua extensão a formas de controle social.” (p.63)

Nessa inversão, o que deixa claro é que ela promove e qualifica o sujeito através do exame, supervalorizando-o dentro do processo de ensino. De acordo com isso, Surgi uma nova pedagogia voltada a certificação, na qual as vezes desconsidera as características singulares dos alunos que fazem parte do processo.


Terceira inversão: O exame como um problema (controle) científico no século XX. Em direção ao empobrecimento do debate educativo

“Através do conceito coeficiente intelectual se reduziu o problema da injustiça social a uma dimensão biologista”. (p.64)

Este conceito serve como mecanismo de controle sobre os processos de transformação na sociedade, pois os testes de coeficiente intelectual transformaram problema de injustiça sociais a uma dimensão biológica, onde a sociedade fica livre dos problemas éticos, quando mostra que as diferenças são os resultados biológicos.
           

“O teste foi considerado como um instrumento científico, válido e objetivo que poderia determinar uma infinidade de fatores psicológicos de um indivíduo.”

Foi nessa inversão que deu início a teoria dos testes, que ocorre a partir da influência trazidas pelos estudos para medir a inteligência, onde ela utiliza os resultados para permitir e justificar o acesso à escola de acordo com as condições individuais.

“O debate em relação ao exame se transformou profundamente a partir do desenvolvimento da teoria de teste.” (p.70)

Os debates na educação foram direcionados em maior parte as questões técnicas que reduziram a cultura pedagógica para um conjunto de fatores estatísticos, onde deixou-se de analisar os problemas da educação e da didática desde as perspectivas da formação e da aprendizagem.

“[...], toda a pedagogia instrumental criada neste período de industrialização recorreu a formas drásticas de controle individual e social.” (p.71-72)

Foi nesse período que surgiu uma pedagogia industrial na qual o professor perde bastante do seu papel do princípio e passa a ser mais uma peça do sistema educativo, um avaliador do alunado, já para os alunos trocasse o sentido de aprender por aprender para o aprender para passar.

“A tarefa educativa não deve contribuir para formar estudantes com pensamento próprio, senão estudantes que mostram repertório de condutas que tem sido preestabelecidas como o modelo de aprendizagem.” (p.75)

O papel do professor nessa afirmação, é que ele nesta concepção tem perdido sua dimensão intelectual, onde ele está sendo como um operário de programas já preestabelecidos, ou seja, é um docente que só reproduz o que já está feito, não colocando atribuição no que passado na sala de aula.

“A pedagogia do exame se mostra a si mesma como eficiente quando consegue representar com um número a aprendizagem do estudante.” (p.77)

Nesse contexto vimos que com o surgimento das notas modificou totalmente os eixos do trabalho da pedagogia, construindo uma pedagogia centrada no exame. Mas percebemos que o exame não é o problema central na educação, e sim construir uma solução a partir dos problemas que a educação enfrenta.

A modo de conclusão

“A história da educação mostra como tal inflexibilidade leva a um conjunto de fraudes (explícitas ou implícitas).” (p.78)

Portanto, o autor mostra que ao decorrer do tempo o exame acabou perdendo a real importância na pedagogia, visto que ele se tornou um objeto de controle sobre diversos aspectos na educação, já que seu propósito hoje está interligado a nota e objetividade do que se pode fazer com o resultado obtido.

Referência

BARRIGA, Angel Diaz. Uma polêmica em relação ao exame. In: ESTEBAN, Maria Teresa (Org.). Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. 5. Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 51-82.


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